26.11.05

Wintercase San Miguel

Como que em tons de lá lá lá, deixo aqui um post com o mero intuito de marcar uma importante ocorrência: o primeiro concerto presenciado pela minha pessoa em plena capital espanhola, quase 3 meses depois de ter chegado (o trabalho é muito, os bilhetes são poucos..).

Os eleitos? The Decembrists + Dirty Three + Mercury Rev, de passagem por Madrid por ocasião do festival de música independente Wintercase San Miguel (Madrid, Bilbao, Barcelona e Valência).

E que tal, Lourenço? Bom, bastante bom, mesmo. Esquivando-me ao facto de termos (eu e o Nacho, que apesar de não conhecer nenhuma das bandas que iriam subir ao palco nessa noite, tomou uma posição sempre de salutar, usualmente designada como “que se dane!”) chegado tarde e a más horas (quem diria que a expressão "abertura de portas às 6h30" seria sinónimo de "começo dos concertos às 6h30"?) perdendo consequentemente a actuação da 1ª banda, que por mero acaso era a que eu mais tinha "ganas" de ver.

Chegamos então a meio da performance intercalar, a cabo dos australianos Dirty Three, que para aqueles que têm dificuldades patéticas em inglês significa trio sujo e não árvore imunda. Enquanto Nacho estava paralisado e estupefacto, eu regozijava-me perante o líder da banda, um louco com inequívocas parecenças com um sábio e canibal eremita que esteve isolado do mundo durante os últimos 20 anos a comer croquetes de lagartixas que encontrava na sua caverna. Os seus cabelos esvoaçavam em conformidade com o seu incessante saltitar e gestos alucinados na direcção da plateia, enquanto a barba roçava o seu violino que era tocado e vociferado de todas as maneiras atingíveis pela mente humana. Em suma, a puta da loucura. A música é exclusivamente instrumental (para aqueles que têm dificuldades patéticas em termos musicais: o senhor não canta), muito experimental e com constantes viagens entre uma melancolia pacificadora e uma agressividade inspira e incitadora (adjectivos são uma merda eu sei, mas para este tipo de coisas tão peculiares, só mesmo estando lá, foi realmente um espectáculo único, quer musical, quer teatral). Provavelmente ficou tudo na mesma. Resumindo e simplificando, o Nacho achou as músicas todas meio parecidas, enquanto eu, no preciso momento em escrevo isto, estou a ouvi-los.


Para último, obviamente, a banda mais consagrada, os americanos Mercury Rev que, numa só palavra, sim. Sim, foi bom. Sim, confirmaram todas as expectativas com que cheguei ao concerto. Não, não as ultrapassaram, talvez porque eu já estava arrebatado pela actuação anterior. Contrastando com a loucura e a sisudez de Warren Ellis, líder dos Dirty Three, o espampanante vocalista dos MR, de nome David Baker, largou sorrisos e gestos coreografados durante todo o concerto. Sendo a banda bastante mais pop e menos extravagante do que a sua precedente na noite, o público (e o Nacho) esteve bastante mais animado. Algures entre a dream pop e o rock alternativo, tocaram todas as suas canções famosas e outras tantas. Não foi fabuloso, mas é sempre estranho e agradável estar a poucos metros (nesta ocasião pouco mais de 5 metros) de alguém que estamos habituados a admirar e a ver apenas na VH1. Mais uma para o currículo.


---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

www.dirtythree.com


www.mercuryrev.net


A quem gosta de música, recomendo muito Mercury Rev. A quem adora música, recomento muito The Decembrists. A quem idolatra música e tem ânsia de ouvir coisas novas (em termos pessoais, porque esta banda existe desde 1992), recomendo muito Dirty Three. Para quem não gosta de música, recomendo salada de frutas.