23.11.05

Nogueira e Matthäus - Parte I

Nogueira e Matthäus, separados à nascença
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I. Introdução

Parece-me desagradável, para não dizer ordinário, começar esta minha exposição ideológica sem previamente apresentar os dois intervenientes. Assim sendo, vou primeiro dizer o que me levou a escrever este trabalho.

Quando penso no futebol dos anos 90, certas figuras saltam-me imediatamente à memória. Não é um golo particular de Lima, esquerdino do Sporting, nem um auto-golo de Jorge Bermudez contra o Belenenses em pleno estádio da Luz que me faz amar este desporto. São as trajectórias. Começar no ponto A e acabar no X, podendo entretanto passar pelo H, L ou mesmo I grego. O início de uma carreira num clube desconhecido, o descortinar por parte dum técnico visionário que ali poderia estar um talento, a oportunidade dada ao atirar o jovem atleta aos lobos numa complicadíssima deslocação a Vidal Pinheiro, o agarrar ou não dessa chance, o estrelato ou o desvanecer pelas divisões secundárias. Os golos são o sal do futebol, é certo. Mas o sal sozinho apenas nos dá sede. O sal é algo que condimenta um prato recheado com arroz malandro e bitoque com ovo a cavalo. A salada, no prato ao lado, espreita sorrateiramente o prato principal, desejosa de saltar para a ribalta. Assim é o futebol.
barnjak protege o esférico enquanto nogueira, por detrás, emana odores corporais de modo a prejudicar a acção adversária.

Temos então o desporto rei como um prato típico de um qualquer café central. Não será este o tema primordial em qualquer conversa passada no mesmo? Não irão todas as estradas labiais desaguar no mesmo terminal? Em futebol? Parece-me não só que sim, mas também que sim, senhor.

Parece-me também que quando pensamos em jogadores que marcaram toda uma era no futebol português, vem-nos à memória nomes como Milton Mendes, Caccioli, Dino, entre muitos outros. Jogadores que eram tema de conversa num tempo em que ainda não havia um Big Brother, um processo Casapiano, em que a concorrência mais forte eram programas apresentados por Badaró. E, no mano a mano com o “entertainer” brasileiro que tanto brincava com crianças como com seios desnudados de strippers, Bóbó levava invariavelmente a melhor, Ivkovic acabava sempre por desviar para canto e Constantino conseguia todas as santas vezes desfeitear o apresentador.

Falo daquela época do futebol nacional em que o rectângulo de jogo, de Outubro a Março, abandonava o nome de relvado para adoptar a denominação de enlameado. Das bolas diadora, dos árbitros vestidos de preto, da equipa titular numerada de 1 a 11.

Refreando um pouco os ânimos, dou sequência, agora sim, à apresentação dos dois visados, num reencontro proporcionado pela minha pessoa que, certamente, irá fazer corar os produtores do Ponto de Encontro.