23.11.05

Nogueira e Matthäus - Parte III



III. Argumentos Irrefutáveis


Após esta exposição inicial dos sujeitos em questão para esta tese, vamos passar à secção dos factos indesmentíveis. Muitos poderão argumentar que apenas se trata de coincidências miraculosas. Mas, meus amigos, uma dezena de coincidências miraculosas? A apreensão dos mais cépticos ver-se-á progressivamente desnudada perante a frieza e evidência factual daquilo que me preparo para apresentar.
Vamos então largar as premissas, para aquilo que será certamente descrito em anos vindouros como uma das maiores touradas argumentativas de que há memória:



(a) Ambos os intervenientes têm barba, senão vejamos: Matthäus apresenta-se no rectângulo de jogo com a sua barba de 2 dias, enquanto Nogueira exibe orgulhosamente a sua barba de 2 anos.



(b) Ambos prezavam pela “polivalentia”: Médios? Defesas? Jogadores que recebem a bola, levantam o queixo e a entregam no pé do matador da equipa? Incansáveis pragas assassinas que não descansam enquanto não exterminarem todo e qualquer perigo para as redes da sua equipa? Ninguém sabe ao certo, pois o seu teor de polivalência faz com que todos estes atributos e muitos mais se fundam num único jogador, exemplo acabado de profissional exemplar, vangloriado pelos treinadores, temido pelos oponentes e, ao mesmo tempo, admirado pelos mais jovens que sonham em ter com eles uma relação homossexual que os levará à equipa A.



(c) Ambos eram os maiores jogadores presentes dentro das quatro linhas: Nogueira, usualmente, era o maior elemento em termos quantitativos. Matthäus, por seu lado, superava qualitativamente os restantes jogadores em campo.



(d) Ambos os jogadores foram internacionais, não interessa que tal se tenha verificado por países diferentes, pois vivemos numa Europa que exibe orgulhosamente a sua unicidade e, como tal, devemos salutar e não criticar esse aspecto. Assim sendo, Nogueira foi sete, repito sete vezes internacional pela selecção das quinas, tenho feito o gosto ao pé por duas vezes, o que dá uma média de 0,2857 golos por partida. Matthäus representou a Mannschaft por 150 ocasiões, tenho marcado 23 golos. Média de golos por jogo? 0,15(3). Voltando ao que já referimos na primeira apresentação dos jogadores, e tendo isso como um dado provado ao qual acrescentamos este pequeno detalhe estatístico, temos que ambos os jogadores eram tidos na época como elementos preponderantes para as tácticas das respectivas selecções. O facto de fazerem regularmente o gosto ao pé apenas acentua e torna mais provável o facto de serem descendentes dos mesmos genes.



(e) Já que entrámos no mundo dos números, vamos agora analisar os envergados pelos jogadores na parte dorsal das suas camisolas. Nogueira entrava usualmente em campo equipado com a camisola número 6. Matthäus, por norma, envergava a 10. Trata-se, obviamente, de dois vértices de um losango de meio campo. Mas a magia dos números ultrapassa a lógica humana e leva-nos muitas vezes para mundos quadriláteros. 10 + 6 = 16. Coincidência? Meus amigos, coincidência é a estratégia de refugo para aqueles que têm os olhos tapados por sobrancelhas barbaricamente grandes. Parece-me que para meio entendedor meia palavra basta e, mesmo se não conseguiu compreender este meu argumento, pode sempre entender as palavras que escrevi, em separado.



(f) A data de nascimento, que obviamente foi forjada. Não existe algo como o crime perfeito. Aliás existe, mas tal se soubesse deixaria de ser perfeito. Alguém mete sempre o pé na argola e deixa uma pista para trás, podendo deitar tudo a perder naquilo que era um plano aparentemente imaculado e cujo planeamento tinha sido cuidadosamente elaborado durante anos. O ser humano é uma máquina magnânime e complexa, mas de modo algum incólume a erros. Assim sendo, ao fraudulentamente adulterarem a certidão de nascimento dos “gémeos” Matthäus e Nogueira, cometeram um deslize que pode passar imperceptível ao olho desarmado: Nogueira “nasceu” a 21 de Setembro de 1963; Matthäus “viu-se parido” a 21 de Março de 1961. Como é possível terem feito uma equação de falsificação assim tão óbvia? Basta uma máquina de calcular, que nem precisa de ser científica, para descobrirmos a verdade. Se não bastasse o facto de não terem alterado o dia do nascimento, vamos facilmente conseguir descortinar qual a verdadeira data de nascimento de ambos os fulanos: o mês 3 mais o mês 9, somados, dão o mês 12. Toda a gente sabe que meio Dezembro equivale a um Junho. A média nunca falha. Usando o mesmo teste infalível no ano de nascimento, note-se: (1961 + 1963) / 2 = 1962. Conclusão por demais óbvia: Os “gémeos” nasceram dia 21 de Junho de 1962.



(g) Como se todos os argumentos até agora não bastassem, recorro agora, quiçá golpeando baixamente, às indesmentíveis e inalteráveis provas fisionómicas: Ambos os gémeos se apresentam com mais de 1,75 metros de altura. Nogueira, com quinze centímetros a mais do que a fasquia estabelecida, enquanto Matthäus ultrapassa a mesma por 2 centímetros. Isto comprova não só as semelhanças físicas, como também nos dá a entender das duas uma: ou Matthäus foi o primeiro a sair, prematuro por ligeiros segundos, tendo ficado mais minguado do que o seu irmão, que ficou em posterior gestação durante o tempo equivalente a 13 centímetros de altura; ou Nogueira saiu primeiro, tendo endireitado a espinha mais cedo do que o irmão, que ficou esquecido e deixado a atrofiar no ventre da mãe (a referência aos avanços médicos nos inícios da década de 60 serão tratados posteriormente neste mesmo exercício). Os mistérios da germinabilidade são vastos e obscuros, pelo que podemos apenas especular.



(h) Passando ao peso, em quilogramas, verificamos que Nogueira pesava (enquanto atleta de alta competição e regido pelas mais finas dietas atléticas de que há memória) 77 kg. Matthäus? 75 kg. A diferença de peso é claramente justificada pelo desfasamento de saída do ventre da progenitora, que como é do conhecimento público se rege pelo seguinte teorema: [a raiz quadrada da diferença (em segundos) de saída do ventre entre os gémeos, elevada a 9 exponencial e dividido pelo mínimo múltiplo comum da distância entre o umbigo e o queixo da progenitora, dá um número. Multiplicando esse número por zero e somando dois, dá a diferença em quilos que os gémeos terão na sua idade adulta e enquanto forem futebolistas profissionais]. Fazendo as contas, vemos que tudo bate certo. Como se tal não bastasse, a similitude entre os 77 kg de Nogueira e os 1,77 m de Matthäus parece-me por demais arrebatadora.



(i) A fisionomia é, de facto, irrefutável. No entanto, e de modo a silenciar as últimas gralhas criticas, vamos ainda utilizar um testemunho que, obviamente e de acordo com as normas em vigor no Grande Compêndio de Regras de Utilização Fictícia de Testemunhas Abonatórias Inexistentes, nos vai relatar uma pequena situação. Vamos respeitar o anonimato requerido por quem nos vai relatar os factos que se seguem:


Inquiridor: É verdade que tem conhecimento de factos concretos que provam, sem margem de dúvida, que Nogueira e Matthäus são irmãos gémeos separados à nascença?
Inquirido: É verdade, sim senhor.
Agora, meus caros, só não acredita quem não quer.



(j) Finalizo com o “corolário do argumentador factual”, que durante décadas tem servido de suporte a milhentas teorias que vêm explicando desde o extermínio dos dinossauros até ao nascimento de seis dedos em algumas pessoas: «Aproximadamente dez argumentos constroem um facto que não pode ser refutado sem que se prove previamente como nasceu o universo».
Se contar os argumentos expostos, verificará que, de facto, são dez. Assim sendo exclamo aqui que Nogueira e Matthäus são, de facto, gémeos, como queria demonstrar.