29.10.05

Resumo (possível) do 1º mês


Aproveitando o meu regresso à terra natal, e findado o primeiro mês em Espanha, relato agora a frio estas últimas semanas. Infelizmente não se pode querer tudo, e teremos o "frio" em deterimento da memória, pois há muita porcaria de que já não me lembro, como a perseguição a um chinês para um vídeo, mas assim este post ficaria maçudo e ninguém o leria. Assim sendo, vou fazer um texto pequeno. Ninguém o vai ler na mesma, mas pelo menos tenho pouco trabalho.

Primeira elação: as rameiras perseguem-me. Como se já não bastasse ter vivido 5 meses no red light district de Gent (Bélgica), rodeado dessas liberais senhoras, nos três primeiros dias em Madrid vivi também na rua das galdérias, uma perpendicular à famosa Gran Via. Alugámos um quarto (eu e o Ricardo, o meu colega portuense de 30 anos) num hostal de estudantes, como planeado. O quarto era de 3, logo dividimos a habitação com outra pessoa, um americano que andava a viajar sozinho por Espanha, cujo nome sorrateiramente me escapa, qual Bin Laden à CIA. Passámos neste hostal 3 dias, seguindo-se 5 dias noutro hostal, agora num quarto para apenas duas pessoas. Nesses 5 dias trocámos 4 vezes de quarto, pois íamos ficando e ficando e ficando mais um dia.

Não é muito giro viver num hostal. As razões são muitas e claras: gasta-se bastante dinheiro, a sensação de “chegar ao hostal depois de um árduo dia de trabalho” fica bastante aquém dum belo “chegar a casa depois de um árduo dia de trabalho”, e nunca sabemos se as empregadas da limpeza andam a pôr a nossa escova de dentes no rabo.
Foram 8 dias a sair para as aulas às 9h da manhã e chegar para dormir às 23h. Isto tudo apenas com uma mochila com algumas mudas de roupa (as suficientes, estejam descansados, fiz uma substituição de roupa a meio da cruzada).
Acabados estes oito dias, e quando já conhecíamos os nossos colegas na escola, deparámo-nos com um espanhol que tinha Nacho por nome, e que vivia sozinho numa casa com 3 quartos. Esperava por um colombiano que chegaria no final do mês e o outro quarto ficaria vago indefinidamente. E nós mitrámo-nos para esses quartos vagos.

Desde o início que conciliávamos as aulas (até as 16h) com a incessante busca por uma casa. Requisitos: 3 quartos, 2 casas de banho, cozinha mobilada e que estivesse dentro do nosso tecto salarial. Vimos muitas, muitíssimas casas, mas todas tinham um senão. Ou não tinham a cozinha mobilada, ou tinham 2 quartos bons e um quarto óptimo para um anão, ou não estavam perto de um metro…
Depois de encontrarmos a casa, outro problema: o aval bancário. Depois do aval bancário, outro problema: o facto de eu só ficar, em princípio, por 9 meses e os meus dois roommates querem que eu pagasse os 12. Assim sendo, abandonei o barco e fiquei onde já estava: em casa do Nacho.

A casa. Está situada ao lado da maior praça de touros do mundo, as Ventas. Metro a 2 minutos, supermercados e cafés perto, clube de vídeo (cada filme €1,5), quiosque, tudo o que um rapaz precisa. Calle Colomer, a rua dos mecânicos. Quanto à casa per se, está totalmente mobilada, tem 3 quartos, 2 casas de banho (numa das quais sentamo-nos na retrete e batemos com o nariz na parede em frente). O meu quarto tem um tamanho decente, não dá para organizar um baile mas cabe lá muita coisa. A varanda foi fechada, dando ao quarto mais espaço, ou seja: tenho uma marquise só minha. O mau de ter uma marquise é ter de levá-la a passear e escová-la todos os dias. De resto a luz que entra pela falta de estores e o barulho que passa como se as janelas estivessem abertas (e há autocarros desde as 6h30 da manhã) são derrotistamente suportáveis.


Os companheiros de quarto: No quarto número 1 temos o “dono” da casa, o Nacho Belloch de Valência. Tem 22 anos, já foi body builder e é um porreiro inacreditável, sempre muito bem disposto. É fanático das limpezas e das arrumações e gosta muito de comer sopas e canjas e essas merdas que só comemos obrigados pela nossa mãe. No outro quarto temos Fernan Pardo, um peruano de 24 anos que é dj de música eletrónica. Se o Nacho é o 80, este é o 8: tem um ar de despistado, fuma que nem uma besta e tem uma bela barriga graças aos 3 litros de coca cola que bebe por dia.

Finalmente a escola: somos 28 alunos no curso, só 5 estrangeiros. Eu e o Ricardo os únicos que não temos o espanhol como língua mãe. Depois há dois mexicanos e o colombiano que vive em minha casa e que afinal se revelou peruano. Temos trabalhos que nem escravos de raça negra durante a época em que os escravos de raça negra eram escravizados por poderosos agricultores americanos. Em 25 dias ainda só consegui ir sair 3 vezes…

Bem para já é tudo, daqui a uns tempos vou aqui pôr algumas fotografias da casa. Para já, apenas uma, duma festa organizada pelos alunos da escola.

Ricardo, EU, Karime, Mikel e um amigo, Paloma