Caro Abel Xavier,

Após a gloriosa entrevista de Abel Xavier ao jornal O Jogo no passado dia 11 de Junho, não pude deixar de homenagear o homem que actualmente se situa na pole position para se tornar na maior estrela portuguesa de Hollywood, numa altura em que Joaquim de Almeida se deixou sugar por um ocaso que raramente perdoa...


De BERMELHINHO VIVO COR DO SANGUE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO QUE NOS GUIA NESTA VIDA NA QUAL VADIAMOS QUE NEM DEMÓNIOS, vou comentar a tua entrevista, caro Abel.

Das barracas do Jamor às portas de Hollywood

RODRIGO CORTEZ

É já hoje que começa a aventura americana de Abel Xavier. Aos 34 anos, assinou pelo Los Angeles Galaxy, o 13ª clube da sua carreira (que já passou por oito países diferentes) e onde vai também jogar David Beckham. Em entrevista a O JOGO, um caso único no futebol mundial.

PERGUNTA | Quando espera começar a jogar pelo LA Galaxy?

RESPOSTA | O campeonato já está a decorrer e eles querem uma integração rápida, por isso acho que vou começar a jogar o mais depressa possível.

RE-RESPOSTA | nem vou descalçar as chuteiras. ou então cumpro o meu já longo sonho de implantar pitons nas plantas dos pés.

P | A a sua imagem teve um papel importante no interesse do Los Angeles Galaxy?

R | Não, não foi por uma questão de imagem que assinei este contrato. Eles entendem - e foi o que me disse o presidente [Alexei Lalas] – que, com a minha experiência, posso contribuir para o crescimento da equipa e do futebol na América.

RE-RESPOSTA | com a mesma experiência que outros milhares de jogadores que não parecem saídos da Star Wars também contribuiriam? Vais contribuir para o crescimento do futebol na AMÉRICA? Caro Moisés Xavier, tenho inclusivé dúvidas se as tuas unhas dos pés crescem ao pé de ti...

P | Assinou um contrato milionário?

R | Assinei um contrato importante, aliciante, irrecusável, por tudo o que representa. Não é só a vertente desportiva ou financeira que interessa. É uma decisão de vida e isso para mim é muito importante.

RE-RESPOSTA | importante, aliciante, irrecusável, incumensurável, bonzinho? Abel tu vais é para o sol, desde que te paguem a "roulotte" estarás mais que contente.

P | Beckham vai ganhar 250 milhões de dólares…

R | Mas ele é um caso único no futebol, é uma realidade completamente diferente, até por aquilo que projecta. Mas estou contente com o contrato que assinei.

RE-RESPOSTA | Abel, não seja modesto, você também está intimamente envolvido com o fenómeno da projecção, nomeadamente de vomitado na direcção do solo.

P | Foi através dele que surgiu o interesse em si?

R | Para ir para o Los Angeles Galaxy tive contactos directos com o presidente e com o treinador. O Beckham deu-me conselhos, sim, mas já depois de haver contactos. Disse-me que seria importante que eu me juntasse a ele, até pela experiência que falta a esta equipa.

RE-RESPOSTA | Beckham disse-me: se tu não fores, eu não vou!

P | Vocês são amigos?

R | Não somos propriamente amigos, mas já o conheço há algum tempo, desde que jogo em Inglaterra. Às vezes falamos ao telefone e foi isso que aconteceu agora.

RE-RESPOSTA | Falámos duas vezes ao telefone, das outras oitocentas ele não atendeu, mas deixe-lhe mensagem de voz e recitei-lhe um poema sobre como seria bonito jogarmos juntos.

P | Não costumam estar juntos?

R | Ele é prisioneiro da vida que tem. Para sair de casa tem que ser na mala do carro, mas tenho grande admiração por ele.

RE-RESPOSTA | Se não fosse prisioneiro da vida que tem, Beckham seria o meu melhor amigo e guardaria as chaves do carro dentro do meu cabelo. A admiração que tenho por ele, juntamente ao poster dele nú que tenho no tecto do meu quarto, exponenciou as minhas actividades lúdicas de cariz ulteriormente sexual.

P | A vossa contratação representa um enorme investimento…

R | Acho que o Los Angeles Galaxy já rentabilizou a venda do Beckham. Já esgotaram a lotação do estádio para o resto do campeonato, algo que nunca acontecera antes. E com as camisolas que já venderam…. É bom para o clube e também para todos os jogadores ter uma pessoa como o Beckham na equipa. E para mim é um enorme prazer jogar ao seu lado e ter na equipa um colega da sua dimensão.

RE-RESPOSTA | Obrigado por me porem no mesmo saco de Beckham. É exactamente como quando vou às compras e a senhora da caixa, por descuido ou não, põe os palitos no mesmo saco do Moet & Chandon. Eles chegam a casa de tal modo inchados que nem me cabem entre os dentes!

P | A sua juventude foi passada nos arredores de Lisboa…

R | A minha juventude eu passei no Jamor. Nas barracas do Vale do Jamor. O que me orgulho em dizer, porque todas essas vivências são importantes no crescimento do carácter de uma pessoa. Orgulho-me da forma como a minha família me soube proteger e me soube educar da maneira que eu acho que é a adequada e que é a mesma que transmito também aos meus filhos. Porque não nos devemos esquecer de onde viemos…

RE-RESPOSTA | ...senão depois perdemo-nos a caminho da ceia de natal.

P | Ao tomar consciência que fez esse trajecto das barracas do vale do Jamor até Beverly Hills, que sensação lhe transmite? Sente-se especial?

R | Isso faz parte da vida. Há muitas pessoas que não sabem de onde vêm nem para onde vão, mas eu sei de onde venho e para onde vou. E a vida não é fácil. Mas sei, e sinto, que é tudo uma questão temporal, porque desta vida não vou levar as coisas materiais que adquiri. Vou é levar sentimentos, pelos meus amigos, pela minha família, pelas experiências que tive. Isso é o mais importante, o resto é tudo muito subjectivo. Dá conforto, alimenta-me a mim e aos meus, mas é tudo efémero.

RE-RESPOSTA | e responder à pergunta? os clichés filosóficos largados ao desbarato facilmente se tornam tagarelices, Abel! Vá, continua, sê mais objectivo e menos efémero.

P | Há uma diferença grande entre o ambiente da sua infância e a alta roda com que vai conviver agora…

R | Não me esqueço do meu passado, mas sou uma pessoa muito flexível. Costumo dizer que, se tiver que vestir um smoking, sei fazê-lo, mas se tiver que pôr uns calções e uns chinelos, também os sei pôr. Vivi para poder saber estar nas diversas situações que se me deparam na vida.

RE-RESPOSTA | se, se, se. Mas afinal de contas Abel, você veste-se por obrigação, não?

P | Beckham já é um ídolo nos Estados Unidos. E o Abel, pensa que vai ser tratado da mesma forma?

R | Esses factores externos não vão mudar a minha maneira de ser, mas é natural que possa existir algum impacto. Mas essas questões não consigo controlar, o que consigo controlar é a minha dedicação ao trabalho. Quanto ao resto, não depende de mim.

RE-RESPOSTA |Abel controla: a dedicação; a entrega; a pluviosidade que se precipita de cada um dos seus poros treino após treino. Abel não controla: o factor "wow" que inegavelmente possui; o seu próximo penteado, dada a origem ser exclusivamente divina; a sua ejaculação precoce.

P | Convive bem com a fama?

R | O futebol é uma indústria e naturalmente há mercados em que há mais factores externos, mas não é isso que vai modificar aquilo que eu pretendo fazer na América.

RE-RESPOSTA | Abel, já te tinha avisado sobre essas respostas vagas. Podes dizer aos senhores lá em casa que vais muitas vezes dormir a casa da fama, e como mandam as regras elementares da etiqueta, levas sempre alguma oferenda, um bolinho, um dvd pirata. No fundo, não só convives bem com a fama como já possuis estreitos laços de amizade com a mesma.

P | Provavelmente vai ter uma vida social bem movimentada. Inclusive, pessoas como o Robbie Williams, o Samuel L. Jackson ou o Tom Cruise são grandes fãs do clube e costumam ir ver os jogos…

R | Acho que toda a gente gostava de se relacionar com pessoas dessa dimensão. Talvez vá conviver com pessoas, vou trabalhar com pessoas que talvez não imaginasse no passado. A vida por vezes coloca-nos em determinadas situações que são boas e que devemos alimentar, que devemos viver e tirar alguma satisfação desses novos contactos que iremos ter. Até porque o futebol não é eterno. É uma decisão que tomei até num espírito de um outro tipo de contactos para termos futuros.

RE-RESPOSTA | Em Portugal joguei num grande clube, como tal estou habituado a privar com nomes que são autênticas referências. Fazendo um paralelismo com os nomes que expôs, cito-lhe estrelas nacionais como José Malhoa e a filha, a sempre encantadora Anna, Camilo de Oliveira ou (e este paralelismo é arrepiante, ou não fosse praticamente uma tradução demasiado literal) o cantor Tó Cruz.

P | Já pensa numa futura carreira de treinador?

R | Ultimamente tenho alimentado esse desejo, mas enquanto tiver esta fome e esta vontade vou continuar a ser jogador. Quando acordar de manhã e não sentir vontade de treinar, então é sinal que tenho de abandonar e respeitar o futebol por tudo aquilo que me deu. Mas ser treinador é algo em que penso fortemente.

RE-RESPOSTA | Olha Abel, sei perfeitamente como te sentes. Certa manhã acordei e não senti vontade de urinar. Deduzi que fosse um sinal que tivesse de abandonar tal acção e agradecer aos deuses da urina, que obviamente habitam na bexiga de cada um de nós, tudo o que me haviam dado. Inclusivé fui um passo mais à frente e devolvi-lhes a x-box! Mas, estranhamente, vinte minutos depois tive vontade. Não me devolveram a consola, mas continuo a pensar fortemente nela.

P | Esta nova aventura é motivante?
R | Gosto deste desafio, de ir à descoberta. Sou um aventureiro por natureza. É assim que alimento o meu desejo pelo desconhecido, motivo-me muito desta forma. Aos 34 anos, acho que continuo motivado porque vou para um meio que me é desconhecido.

RE-RESPOSTA | News Flash: Abel, a América do Norte foi descoberta em 1000 por Leif Eriksson, um aventureiro por natureza. As tuas aventuras vão atingir o pique quando te perderes nos subúrbios e o teu carro for apedrejado por um gang de adolescentes que não gostam desse tal de soccer. Kit-aventura de Abel: Range Rover, carteira recheada e GPS. A bússula vem com o carro e o canivete suiço partiu-se enquanto comia beef jerky.

P | Assinou por ano e meio, mais dois de opção. Está a pensar accionar essa cláusula e jogar até aos 38?
R | Não faz sentido pensar no que poderá acontecer aos 38, quando tenho 34. Vou tentar preservar a minha capacidade física e mental para poder estar bem e depois penso que as coisas se vão desenrolar de forma natural. Quando não sentir este ânimo, este desejo, esta fome de continuar a ser um jovem, não faz sentido continuar.

RE-RESPOSTA | Abel, a lógica diz-nos que o desejo de ser jovem é directamente proporcional ao avançar da idade, logo quando tiveres 38 vais estar esfomeado por continuar a ser jovem.

P | Satisfeito com a carreira que tem tido?

R | Foi uma carreira de um passo atrás para dar dois à frente. Podia ter tido mais projecção, mas acabei por fazer uma carreira de elevador. E só à base do trabalho, nada graças a jogos de influências, porque se calhar tinha tido mais estabilidade nos grandes clubes da Europa.

RE-RESPOSTA |Abel: wow! Quando eu achava que as tuas respostas não podiam piorar, apareces tu e superas-te de modo categórico. Fazendo as matemáticas: 1 passo negativo mais 2 positivos = 1 passo positivo, logo fizeste uma carreira passo a passo, como toda a gente [apreciável tentativa de mistificar o banal]. Os passos são pertence da escada (se a subir ou descer é tão irrelevante como a tua posição ideal no terreno), mas tu fizeste UMA CARREIRA DE ELEVADOR! Vou entender isso como uma belíssima despersonificação, figura de estilo de elevado teor cómico. Tenho um tio aliás que foi ESCADA ROLANTE até ter sido promovido a gerente de loja. Nunca se queixou.

P | É dos jogadores na história do futebol que tem passado por mais clubes e países diferentes…

R | Pode-se quantificar uma carreira através de duas maneiras. Uma é pelos título que se conquistam, outra é pelas experiências que se adquirem, pelos conhecimentos que se ganham, pelas línguas, culturas e religiões com que convivemos. Nesse aspecto posso dizer que estou a ter uma carreira rica nos conteúdos. E o futebol é a melhor escola de vida que existe. Temos é que ser muito fortes para não perdermos o rumo e a noção das coisas.

RE-RESPOSTA |Atrás pedi-te objectividade. Títulos são contabilizáveis. Jogos e golos também. Dinheiro e número de clubes igualmente. Agora Abel, como é que QUANTIFICAS uma carreira através de experiências, conhecimentos e religiões com que convives?
Balancete de Abel na Turquia: 46 experiências sexuais (não vamos executar nenhuma auditoria de género neste ponto), 12 bons amigos angariados, 52 amigos "assim-assim" recrutados, 4 inimigos aniquilados; 2 livros abertos, zero terminados, 70 revistas devoradas, das quais foram recortadas 61 fotografias do casal Beckham; 81% das pessoas com quem houve interacção eram sunitas, 19% eram xiitas.
Pelo menos remataste a entrevista com coerência, com um ensinamento que deveria ser a base ideológica da religião xavierista: temos que ser MUITO FORTES para NÃO PERDERMOS O RUMO e a noção das COISAS.

Embaixador de Portugal

Gilberto Madail foi uma das pessoas que telefonou a Abel Xavier para lhe dar os parabéns por esta nova etapa da sua carreira. “Telefonou-me a agradecer e a dizer que vou ser o embaixador de Portugal na América e que toda a Federação Portuguesa de Futebol está contente com isso”, conta Abel. “Nesse sentido, gostava de agradecer, publicamente, essa chamada de apreço para comigo”, acrescentou.

Duvido que o verdadeiro Embaixador de Portugal nos E.U.A. queira partilhar o seu leito contigo, se bem que tens esse lobby a teu favor. Sasquash a representante máximo de Portugal no país mais poderoso do mundo! Era da maneira que reparavam em nós...

Também disse...

“Portugal é um país de talentos e irá sempre continuar a ter grandes gerações de futebolistas”

Obrigado Nostrabeldamus, as tuas capacidades premonitórias serão indubitavelmente uma inspiração para todos os pais que ano após ano pagam para os filhos andarem nas escolinhas de futebol, como investimento com vista a que anos mais tarde possam ser seus empresários.

“Nunca poderia ser uma pessoa politicamente correcta. Um processo de luta e de adversidades é que me tornou naquilo que sou”

Abel para seres politicamente algo a tua opinião teria que ser ouvida. A dona Márcia da pastelaria também não pode ser politicamente correcta aos preços que vende o café!

“A minha experiência, a nível de preparação, de métodos nutritivos, de tudo aquilo que é o futebol em si, pode ser muito útil para o Los Angeles Galaxy”

MON DIEU, a PÉROLA! Nem vou comentar isto, é autonomamente hilariante.

“Não acredito no modelo de formação de treinadores em Portugal. Como é possível o Paulo Bento tirar o curso ao mesmo tempo com treinadores da II ou da III Divisão?”

Mas acreditas em OVNIS, ou não fosse lá que arranjas o cabelo. Olha Abel, se não acreditas vai ver por ti próprio: o modelo de formação existe e o Paulo Bento está mesmo a ter aulas com aquelas pessoas HORROROSAS e LIMITADAS que treinam a II divisão. Toda a gente sabe que a capacidade de aprendizagem dum sujeito está intimamente ligada às pessoas que ouvem o leccionista na mesma sala que ele.

“Em Portugal, não existe uma nova vaga de directores e dirigentes. Assim o futebol não se renova”

Lá teremos que esperar até ao falecimento de todos. A não ser que proponhas um saudável genocídio!

“A minha geração foi culpada por ter calado certas coisas e por não ter ajudado à reestruturação do futebol português”

Génio de marketing, Abel lança aqui os alicerces para a sua (agora) muito aguardada auto-biografia.

“Acho inconcebíveis as imposições que o Co Adriaanse fez quando chegou ao FC Porto. Eu não tinha aceite aquelas regras. O que é que interessam as tatuagens ou os cabelos compridos?”

Um dia que Abel Xavier seja treinador de um clube da II ou da III Divisão, a sua equipa será seguramente um cruzamento entre banda de heavy metal e indivíduos encarcerados com penas de longa duração.

Para finalizar este post quero agradecer a Abel Xavier por existir. És, literalmente, o farol do futebol português e, de nómada para nómada (apesar de muito aquém dos quilómetros que levas nas pernas), admiro em silêncio a carreira de alguém que sem dúvida alguma se sabe divertir e tirar partido da vida. Abel, se o vires, entrega ao Samuel L. Jackson um abraço meu, com um ligeiro sondar manual no rabo, como vocês futebolístas tão bem fazem.