31.5.07

Boys of Melody

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A música é "Boys of Melody" dos The Hidden Cameras. Vem à calha a propósito do último filme de John Cameron Mitchell, o génio por detrás de um dos meus filmes preferidos, Hedwig and the Angry Inch, película essa que seria alvo de demasiado escárnio por parte de demasiada gente, ou não tratasse de transsexualidade, embora em forma de musical.
Ora o novo filme, de nome Shortbus, supera de maneira inequívoca toda a polémica que o anterior possa ter causado, ou não tivesse eu lido críticas ao mesmo em tons de "filme pornográfico com argumento". Sim, há sexo claramente explícito. Sim, a mãe e o pai não vão gostar de ver isto. O pai, sozinho, ainda é capaz de espreitar, pelo menos até se aperceber que o sexo explícito que decorre no filme é, maioritariamente, homossexual.
No entanto é inovador (não é um atributo que sozinho convença alguém a ver o filme, ou não fosse a filmagem durante 40 minutos de dejectos igualmente algo de inédito), é um tema e uma maneira de ver o cinema não usual, na qual o tabu pura e simplesmente deixa de ter lugar. É agressivo, quiçá demasiado. É confuso, é debocheiro, mas acaba também por ser alegre, no meio de tanto trauma que decorre ao longo do filme. Para quem ainda se choca com a libertinagem dos gays, será um saudável abrir de olhos. Para os outros, acaba por ser um filme curioso, visualmente delicioso e mentalmente estimulante. E hoje em dia, em que tudo é mais do mesmo, agrada-me saber que continua a haver quem ainda não se deixe reger pelo potencial monetário de um projecto, quem aposta em alguns actores desconhecidos, desenvolve um argumento com substância e lança uma obra que não será aceite nem agradará às massas, mas a uns quantos que não só se deliciam com o resultado final, mas admiram a sua invencibilidade. E digo isto uns meses depois de ter ido ver Rocky 6, ou não fosse o extremar de alimentação filmográfica a melhor receita para uma avaliação coerente. E deixo a trailer: